quinta-feira, 8 de abril de 2010

Hoje, não somos nós. Somos eu e tu, pela primeira vez.

Nas sombras do meu quarto
Há mil sonhos por cumprir.

Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós.
Porque tu

Deixas em mim
Tanto de ti.
Matam-me os dias
As mãos vazias de ti.

Deixas em mim tanto de ti, de Pedro Abrunhosa


Que fui eu fazer?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Deixei de acreditar no Amor.
Procuro-o por toda a parte, tento vê-lo nas coisas mais simples e nas mais complexas, senti-lo num olhar ou num beijo, numa palavra, num suspiro, e não o encontro em lado nenhum.
O meu desgosto não é de perda ou de traição, mas de ausência. De puro vazio. De insuportável solidão.
Estou no meio do nada e os meus sonhos não são sombrios, mas brancos, plenos de claridade, iluminados por uma luz branca e ofuscante, para que eu veja sem ponta de dúvidas que à minha volta não existe nada. Nem perto, nem longe. Nada.
Fui-me apercebendo que não fui tocada pelo dom. Senti-me sufocar, uma pressão no peito cada vez maior, um medo enorme de uma existência sem significado. Pois o Amor foi tudo o que procurei na vida e no mundo, foi a esperança de o encontrar que me trouxe viva até aqui. Agora que finalmente percebi que ele não existe para mim, não me sobra nada.
O sangue abranda e arrefece lentamente, há menos ar a insuflar os meus pulmões, a pele perde a cor, os lábios o rubor e as pálpebras fecham-se nesta cadência, ocultando um olhar que muito antes perdeu o brilho. O coração vazio e pequeno ouve-se cada vez menos, um compasso cruel que assinala o passar da vida.
O que vou fazer agora?

Janeiro de 2010

Fotografia: De Ellen von Unwerth

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Dois estranhos

Somos dois estranhos que umas poucas noites se encontraram, sem saberem bem como ou porquê. Tropeçámos um no outro, escolhi-te, demos as mãos e fomos juntos para uma praia qualquer receber o Sol de Inverno que nascia, sem sentir frio, sem ouvir qualquer ruído que não fosse o uníssono da nossa respiração, sem ver outra coisa que não fosse a escuridão das nossas pálpebras fechadas.
Não consegui sentir o cheiro da tua pele, tu de certeza que já não te lembras do meu. Não ouvi uma única vez o teu coração a bater, ainda que tenha adormecido com a minha cabeça no teu peito.
Estavamos juntos, mas intocáveis na nossa individualidade. Dois estranhos adormecidos num recanto de um bar qualquer da beira-mar, construído em madeira, semi-abandonado naquela época, fechado àquela hora.
Viemos por aquelas ruas desconhecidas de mãos dadas, sem procurar disfarçar que não éramos dali, muito menos sem disfarçar que não éramos um do outro. Eu de vestido curto e sapatos de salto alto, a maquilhagem da noite esbatida, as meias rasgadas. Tu com a roupa de puto de todos os dias, que não mudas por nada.
Tu não és de ninguém, nem queres ser. Eu muito menos quero ser tua. Homens como tu já conheci muitos e já vos conheço as manias, as qualidades e os defeitos, sei o que vais pensar mesmo antes de o fazeres. Mulher como eu sei bem que nunca tiveste nenhuma, mas não preciso que percebas isso. Aproveito-o para te usar como me apetece e sei que se soubesses que assim é nem te importarias muito.
Não me interessa o que pensas de mim. Não quero saber se te fui fácil ou difícil. Não quero conversas nem encontros contigo, porque nem sequer te quero conhecer. Do pouco que vi de ti, já sei que não vales muito a pena.
No entanto, ontem descontrolei-me e passei o dia a pensar em ti. Passei a noite a falar de ti. Acho que precisava de descarregar a excitação que me dá esse teu ar simultaneamente descomprometido e oferecido. E hoje acordei cansada, saturada do teu assunto, farta e enjoada.
Não há muito mais a dizer. Somos apenas dois estranhos, eu mal sei o teu nome e umas poucas noites encontramo-nos por aí.
É esta a nossa história, o nosso pequeno episódio.

Dezembro de 2009

Fotografia: "Young Couple Sleeping on a Bus", de Mark Granier

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Euforia

Se há alturas da minha vida em que parece que nada se passa, que o dia de hoje foi igual ao de ontem e há aquela certeza de que o de amanhã não será muito diferente, há outras em que tudo acontece. Em que há mil e uma coisas para viver, cento e um planos na manga, em que sinto que caminho na beirinha de um precipício com os meus botins de verniz preto e de salto alto calçados, de nariz empinado, sem olhar para baixo, sem olhar para trás, completamente nas tintas para isso. Meu Deus, como eu adoro isto!
Como eu adoro estas alturas de verdadeira loucura, em que arrisco tudo por um bom momento, em que toda a sensatez se apaga. Como amo estes momentos em que sei que me querem e me desejam. Em que sou eu que controlo. Em que sinto que posso ter tudo aquilo que quiser.
Há tanto tempo que não me sentia assim. Que não tinha estas certezas. Passei tanto tempo a esconder-me de mim própria e dos outros que me esqueci de como é bom ser eu. Esqueci-me que antes dos outros poderem ver o meu potencial, eu tenho que o mostrar. Esqueci-me de todo o charme que a minha personalidade complicada pode ter.
Meu Deus, como me esqueci que todos os homens são básicos. Que todos eles procuram a mesma coisa e que ela pode estar no poder de um sorriso ou de um olhar. Que eu tenho isso e muito mais a multiplicar.
Só por isso, já valeram a pena. Da mesma forma que ma tiraram, também me devolveram toda a minha sensualidade, toda a minha confiança, toda a minha capacidade de gostar de mim.
Não lhes peço nada e deles não espero nada. Apenas que continuem a existir, muitos, assim palermas, assim fáceis, assim como eu os quero. Assim meus, ao estalar dos dedos.

Dezembro de 2009


Fotografia: Eva Green para Ellen Von Unwerth

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Caixa de sapatos

Estive agora a vasculhar nas velhas caixas de recordações que tenho guardadas no armário. Passei anos a atirar para dentro daquelas caixas de sapatos velhas e bafientas inúmeras pequenas coisas que na altura achava que um dia iria gostar de recordar, mas agora passo anos sem olhar para elas. No entanto, nos últimos dias tens estado tão presente na minha cabeça que foi inevitável não abrir aquela caixinha azul que te atribuí desde sempre.
Sentei-me na cama e preparei-me para reviver múltiplos pequenos acontecimentos que tentei por força esquecer que vivi. Respirei fundo e abri a caixa.
Estupidamente, fiquei surpreendida pela quantidade de coisas que tinha lá dentro! Eu que pensava que ainda estava tudo muito fresco na minha memória, dei por mim sem me lembrar de onde vinham aquelas flores todas, em que circunstâncias me tinhas dado aquele coração em cartolina vermelha (São Valentim?) e como tinham ido ali parar aquelas miniaturas em peluche!
No entanto, a pulseira de couro com o teu nome escrito estava enrolada no cantinho em que a pus e as inúmeras declarações de amor e poemas, escritas pelo teu próprio punho (na tua caligrafia horrorosa, que quase me dá vontade de te mandar aquilo de volta para traduzires) estavam todas juntinhas num envelope. E o álbum de fotografias nossas que me ofereceste num aniversário estava ali guardado também.
Peguei nele e abri-o. Não consegui reprimir um sorriso enquanto passava por aqueles testemunhos das nossas maluqueiras. Os beijos e os abraços eram uma constante em quase todas as fotos. (E em plena rua, mesmo perto do Centro. Não tínhamos vergonha?)
Mudámos tanto...
Ponho-me a pensar que daqui a uns dias vou receber notícias tuas e que não sei o que te vou responder. Pergunto por ti? Pela tua família? Disseram-me que andas muito adverso a essas perguntas, mas a verdade é que quero saber como estão todos. Sempre me trataram tão bem! Bem melhor que tu.
Habituei-me de tal forma a que estivesses sempre a complicar tudo, até as coisas mais simples, que agora já nem sei lidar contigo de outra maneira. Acho que vou ficar pelo básico da boa-educação e o resto que se lixe - não me apetece ouvir mais respostas tortas da tua parte. Pergunto por aí, que é o que tenho feito este tempo todo, que é o que faz os outros pensarem que ainda sou tua (e, tal como tu, um caso perdido). Agora já não me incomoda que pensem isso, só me incomodava antes por causa dos olhares tão cheios de ainda-gostas-dele, que me enervavam solenemente, de que era alvo sempre que fazia alguma pergunta. Felizmente, os anos e algumas relações (falhadas) que tive depois de ti encarregaram-se de tirar essa mania às pessoas.
Volto a guardar tudo dentro da caixinha e junto-lhe a última recordação tua, aquele lápis preto em que gravaste o meu nome. Ainda não tinha tido coragem de o guardar, de tal forma me habituei a vê-lo sempre que abria o estojo, mas já não faz sentido andar com aquilo atrás.
Arrumo a caixa no armário, junto a todas as outras que guardam os meus tesouros dos anos cor-de-rosa do Secundário. Era tão feliz nessa altura e não tinha noção disso! Tão protegida. Tão cheia de planos. Tão pinga-amor (até parecia mal! - conta-se pelos dedos de uma mão os meses que estive sem namorado durante esse tempo todo). Tão privilegiada.
Tenho saudades desses tempos loucos, em que "saía de uma e metia-me noutra", sempre com aquele misto de leveza e intensidade de quem só vive uma vez e sente o mundo a pulsar na palma da mão. Se há quem só acorde para a vida quando chega à Universidade, vivendo numa loucura non-stop os anos de irresponsabilidade permitida que lhe restam, talvez numa tentativa de compensar o marasmo em que viveu até aí e em que se vê a viver daí para a frente, a verdade é que acordei muito antes de cá chegar. E estou muito longe de adormecer. Apenas encaro este outro mundo de outra forma. Outros desejos, outros objectivos.
Diz quem me conhece que ainda bem que acalmei e até reconheço que sim. Mas a verdade é que tenho saudades. Será isto a tal de maturidade ?
Não me apetece pensar mais nisto nem nos meus anos de típica High School Girl de filme teen americano. Vou até ao sótão, abro a porta e sinto aquele bafo quente de estufa e o cheiro a mofo de típico depósito de velharias. Subo as escadinhas a correr, como sempre. No meio dos meus velhos livros de escola, de roupas antigas, Barbies e Nenucos, armários e gavetas soltas, jornais guardados e frascos de perfume vazios, encontro inúmeras caixas de sapatos velhas, conservadas ali por aquela mania de nunca-se-sabe-quando-pode-dar-jeito. Pego na das minhas velhas e boas All Star's roxas, vejo se está em condições - está perfeita! - e trago-a comigo para baixo.
Vou levá-la para a cidade. Começar um novo ciclo de recordações. Sem ti.

Agosto de 2009

Fotografia: De Ellen von Unwerth

domingo, 31 de janeiro de 2010

Todas as noites ela se deita com as almofadas na mesma posição: a fazerem um ângulo de 90º, acima da sua cabeça e ao lado do seu corpo. Abraça a que lhe fica paralela, coloca a cabeça no meio, olha mais uma vez ao redor no quarto, semi-iluminado pelos feixes de luz emitidos pelos candeeiros da rua que entram pela persiana entreaberta, fecha os olhos e adormece.
O ritual é o mesmo desde há 3 meses atrás. Desde que ele foi embora.
Tantos anos em que dormiu sozinha, em que chegou a amaldiçoar aquela cama enorme, sempre vazia e triste, sempre demais para si, e parece que os poucos meses em que ele esteve consigo bastaram para já não conseguir adormecer sem pelo menos fingir que está acompanhada, sem aquela almofada onde poisa a cabeça ser um peito ou umas costas. Fecha os olhos e quase que ouve um coração a bater e uma respiração leve, quase que adivinha o cheiro e a textura de uma pele...
A janela fica aberta para ouvir os barulhos da noite e não se sentir tão só. Aprendeu a gostar de acordar com a invasão do Sol pelo quarto dentro e ver que tudo à sua volta está igual, que aquele dia vai ser igual aos outros todos dos 3 últimos meses.
Assim acorda, levanta-se e vai ao quarto-de-banho, sentindo com desagrado o frio dos azulejos nos pés descalços. Olha de relance para o espelho, mas detém-se nos olhos inchados de quem anda a dormir pouco e na cara demasiado redonda.
Em tempos achou-se bonita. Apesar dos complexos serem os mesmos de sempre, houve tempos em que não tinham a influência que agora têm no seu amor próprio. Aquelas gordurinhas a mais que sempre ali estiveram, o cabelo demasiado liso e sem ponta de graça, as bochechas que os outros acham "fofinhas" e que ela odeia, coisas que sempre a chatearam, mas que nunca a impediram de se sentir bonita. Até agora.
Ele nunca lhe disse que a achava bonita. Provavelmente não achava.
Não sente a falta dele, apesar de tudo. Era boa pessoa, tinha boas intenções, verdadeiro, sincero e leal... mas um chato. Sempre a falar nos mesmo assuntos (chatos), sempre igual a si mesmo, sem uma ponta de irreverência, sem um atrevimento. Incapaz de uma loucura, de uma estupidez qualquer que a fizesse rir. Incapaz de surpreender. Até o sexo era chato, mas pelo menos sabia bem ter alguém com quem partilhar tanto espaço.
Se calhar não eram compatíveis. A tal da química. Ele não a fazia perder a cabeça, nunca a fez querer arriscar o que quer que fosse por ele e a ideia de passarem 3 ou 4 dias juntos de férias num sítio qualquer era um pavor. Coitado, tinha as suas qualidades. Mas ela queria mais. Queria os altos e os baixos. Queria a saudade e a ansiedade. O desejo incontornável, a incapacidade de resistir e a paixão.
No entanto, ele apareceu na altura certa: ela precisava de alguém que lhe desse estabilidade e teve-a. Ficam algumas boas recordações, porque houve alguns bons momentos. Fica a sensação de que aquilo tinha que acontecer - era um daqueles casos pendentes do passado - e a certeza de que também tinha que acabar.
Sorri com esta ideia de fatalismo, vira as costas ao espelho e volta para a cama. Não tem sono, mas decide ficar ali por mais uns 5 minutos, abraça-se à mesma almofada e fecha os olhos.
As noites custam a passar e custa amanhecer sozinha, dia após dia, com aquela sensação amarga de que a juventude lhe está a passar ao lado. Lembranças antigas e ideias tolas preenchem-lhe os pensamentos antes de adormecer, pega no telemóvel vezes sem conta, marcando automaticamente aqueles números antigos que sabe de cor, que se havia proibido de voltar a marcar, de pessoas que já não fazem parte do seu presente e que lhe assombraram o passado. Desses números, ela tem a certeza, viria uma resposta. Mas nunca chega a ligar.
No fundo, ela sabe. Sabe do que é que precisa e que a solução não é imediata. Não está bem assim, mas precisa de estar. Sozinha. Precisa de um tempo para si, para se recompor, para recuperar a beleza interior e exterior, para se sentir ela novamente.
É em si que está a resposta. Na sua força de vontade e na sua capacidade incrível de conseguir tudo o que quer - sempre conseguiu, o que aconteceu que a fez parar? Na sua personalidade forte, capaz de amar e odiar, capaz de proteger e atacar, leal, sincera e com princípios definidos. Na sua inteligência - precisa de voltar a acreditar no seu valor, pois até essa certeza foi perdendo. No seu poder, aquela coisa indefinida que toda a gente tem, mas que nem todos sabem usar. Aquela presença estranha à sua volta, mas que vem de dentro. Aquilo que sabe ter construído ao longo dos anos, que foi interiorizando com o que aprendeu da vida e que sabe aplicar - não pode deixá-lo morrer.
Afinal de contas, todos eles lhe disseram: "Tens magia." E ela sabe que sim.

 Agosto de 2009

Fotografia: De Ellen von Unwerth

sábado, 30 de janeiro de 2010

Amor, deixaste de o ser.

Superei-te.
Sem notar, sem estar à espera, acordei um dia e apercebi-me de que a tua existência já não me incomodava, ainda que não me fosses indiferente - como penso que nunca serás.
Aquela aperto de revolta que sentia no peito sempre que o teu nome era mencionado, aquele ódiozinho que fervilhava cá dentro sempre que se falava de ti, de um dia para o outro simplesmente... foram-se.
Esqueci-te? Substituí-te? Desapareceste de mim?
Não. Cansei. Cansei-me do esforço de te ignorar sem o conseguir fazer - sem conseguir, sequer, convencer-me de que o estava a conseguir. Cansei de te odiar e odiar-me por isso, por ter deixado que me manipulasses a vontade e a auto-estima. Aceitei finalmente que tudo aconteceu. Aceitei-te. E que cedi quando mais precisava que me tivesse defendido. Aceitei que a obsessão não era só tua, mas também minha.
Agora que não sei nada de ti, que ninguém sabe, porque teimaste em afastar da tua vida todas as pessoas que realmente gostavam de ti e se preocupavam contigo, quero saber de ti. Como quem quer saber de um amor antigo com quem teve momentos felizes, como quem guarda carinho a alguém por quem sabe ter sido amada, mesmo sabendo que foi esse amor-ódio-obsessão que nos destruíu e te levou aí, a esse nada em que estás, quero saber de ti.
Volta. Não voltes para mim, porque não te quero, nunca mais te quero, mas volta a ti. Tenho saudades tuas e não vou escondê-lo mais. Não do que és agora, porque ao fim e ao cabo és alguém que eu não conheço, mas daquela pessoa que conheci no início. Do sorriso fácil e provocador, do cabelo, do corpo, do cheiro da pele, de cada traço do rosto de antes e não o de agora, sem brilho e marcado por tudo o que tens vivido, das esquisitices com a roupa e dos perfumes, até daquela mania em que insistias de pôr baton de cieiro e creme de mãos para disfarçar o cheiro do tabaco e que eu odiava. Mais do que tudo isto, tenho saudades daquele impacto que tinhas em mim, da atracção impossível de contrariar, dos ciúmes (meus, porque os teus eram insuportavelmente cegos), do amor que tinhas por mim e da paixão devoradora, da forma como me abraçavas, da tua loucura e da tua luxúria.
Superei toda a humilhação, o medo e o caos em que me deixaste. Recuperei-me. Sou eu outra vez, mas não a que te encontrou. Outra melhor, mais forte, mais segura de si. Capaz de te olhar de frente e ver o que és ou aquilo em que te tornaste. Já não me consomes as recordações de certos tempos.
Vou deixar finalmente a ferida fechar. E vou conservar carinhosamente a cicatriz que ela deixar, para me lembrar de tudo o que se passou, de ti, de mim e de nós, que um dia o fomos doentiamente.

Agosto de 2009

Fotografia: De Ellen von Unwerth